segunda-feira, 3 de março de 2008

Silvia Plath



Silvia Plath foi talvez a última voz poética do século XX, depois de W.H. Auden. Possuia um estilo cortante, seco, um verdadeiro sôco no estômago. Sua poesia se remetia única e exclusivamente a ela; fazia verdadeiros estragos literários com suas angústias, desilusões e com a falta paterna que lhe culminou numa depressão e insônia crônicas. Sua morte, num inverno terrível de 1963, foi alívio para ela e para os outros que a cercavam.
Foi casada e teve dois filhos com o poeta inglês Ted Hughes. Como se conheceram, flertaram e acabaram se casando, daria só aí um romance daqueles. Resumindo, ela "teimou" com o poeta e fez das tripas o coração para conquistá-lo - o que muitos acreditam como sendo na verdade uma busca pelo pai perdido, quando ainda era criança, vítima de uma perna amputada em decorrência da diabetes.
O casamento tortuoso - Hughes era mulherengo - contrastava com a melhor fama no meio crítico e acadêmico do poeta, que acabou por aumentar a depressão crônica em Plath e ao mesmo tempo o surgimento dos seus melhores poemas.
Desse período conturbado surgiu, por exemplo, o poema "November Graveyard". Um dos melhores poemas de Plath, foi justamente feito depois do primeiro encontro dela com Hughes - quando ele a perseguiu numa festa, tentando beijá-la a força. "Pursuit", perseguição, conta a história de uma mulher sendo "caçada" por uma pantera - influenciada por um poema de Hughes, de nome sugestivo, "Jaguar": "(...)/ Insatiate, he ransacks the land/ Condemned by our ancestral fault,/ Crying: blood, let blood be spilt/ Meat must glut his mouth´s raw wound/ (...)".
Sua busca pela totalidade das sensações pôde ser vista ainda na adolescência. O tratamento estranho dela para com a mãe e o que estava em volta fez a família colocá-la em seções de eletrochoque. O resultado foi que Plath adquiriu uma insônia aguda, ficando às vezes até três semanas sem dormir e adquirindo uma imunidade gritante à calmantes. Num verão de agosto de 53, Sylvia, escondida, tomou 40 pílulas para dormir e acabou sendo descoberta pela sua mãe dois dias depois no galpão da sua casa, sob fortes gemidos- não sem antes a mobilização da imprensa, polícia e de toda a cidade de Boston, onde vivia.
Um ano antes, Plath sentenciava seu descaso com o mundo a sua volta: "(...) to annihilate the world by annihilation of one´s self is the delude height of desperate egoism. The simple way out of all the little brick dead ends we scratch our nails against... I want to kill myself, to scape from responsability, to crawl brack abjectly into the womb", algo como pare o mundo que eu quero descer.
Em 1958, Sylvia Plath atinge seu auge em literariedade. Nesse período dois de seus poemas são aceitos, e bem pagos, pelo The New Yorker: "Nocturne" e "Mussel Hunter at Rock Harbor".
Outro ótimo poema de Plath veio das constantes lutas com seu destino torto. Pela primeira vez depois da morte de seu pai, Sylvia visita o seu túmulo, em Azalea Path, no cemitério de Winthrop. Disso, acabou surgindo uma jóia: "Electra on Azalea Path": "The day you died I went into the dirt/ Into the lightless hibernaculum (...)/ Your gate, father - your hound-bitch, daughter, friend/ It was my love that did us both to death".
Seu meio literário era rico. Teve contato com importantes publisher´s, poetas e autores da época, como T.S. Eliot. É dessa época "You´re" e "The Hanging Man", "Sleep in the Mojave Desert", "On Deck" e ainda "Two Campers in Cloud Country".
Teve sua primeira filha em abril de 1960, Frieda, nome que homenageou sua tia paterna. Nicolas, seu segundo filho, em 17 de janeiro do ano seguinte. A vinda de dois filhos num curto espaço de tempo fez ruir um casamento já praticamente condenado. Numa de suas cartas à mãe, Sylvia relata que Hughes evitava o filho recém-nascido e que muito antes confidenciou a ela que nunca quis ser pai. Se isso não bastasse, nesse período se acentuaram as escapadas de Hughes, desta vez às claras com Assia Gutmann, mulher de David Wevill, para quem haviam alugado a casa de Londres. "Event and the Rabbit Catcher" é numa clara alusão á traição de seu marido com Assia.
Paralelo à isso, é publicado seu primeiro livro, The Colossus and Other Poems, em maio de 1962, com pouca repercussão de crítica e baixa vendagem. Sylvia inicia nesse período a produção de uma novela, The Bell Jar, que conta a história de uma jovem americana na Inglaterra, que se apaixona e se casa - uma clara autobiografia.
Outro poema saído da tempestade vivida por Sylvia nesse período, veio quando um dia ateou fogo a praticamente todos os seus manuscritos e cartas, "Burning the Letters": "I made a fire; being tired/ Of the white fists of old/ Letters and their death rattle (...)".
Sua vida era, sem dúvida, feita de petardos emocionais. Num dia de outubro de 62, Hughes chega em casa para novamente partir por mais uma semana e confidencia a Sylvia que achava que ela já havia se suicidado, tamanho o descaso dele com ela, os filhos e o casamento. Dias depois, o marido de Assia, David Wevill se suicida. Assia vai então definitivamente viver com Hughes - a essa altura praticamente separado de Sylvia.
É justamente nesse período que nasce os melhores e mais consagrados poemas de Sylvia Plath, feitos em menos de um mês, entre outubro e novembro de 62: "A Secret", "The Applicant", "Daddy", "Medusa", "The Jailer", "Lesbos", "Stopped Dead", "Fever 103", "Amnesiac", "Lyonesse", "Curt", "By Candlelight", "The Tour", "Poppies in October", "Ariel", "Purdah", "Nick and The Candlestick", "Lady Lazarous", "The Couries", "Getting There", "The Night Dances", "Gulliver", "Thalidomide", "Letter in Nov" e "Death & Co". Desses, descatacam-se "Daddy", à seu pai, e "Poppies in October" e "Ariel" - os dois mais conhecidos poemas de Plath.
No fim de novembro Sylvia leva seus dois filhos de volta a Londres, se estabelecendo num antigo flat de W.B. Yets, que ela adorava. Sua novela The Bell Jar é publicada na Inglaterra, com o pseudônimo de Victoria Lucas, desta vez bem recebida.
No início de 63, entre janeiro e fevereiro, escreve mais uma batelada de excelentes poemas: "Sheep in Fog", "Child", Totem", "The Munich Mannequins", "Paralytic", "Gigolo", "Mystic", "Kindness", "Words", "Contusion", "Balloons". O último e mais completo poema de Sylvia Plath é "Edge", que conta a história de uma mulher que se acredita completa - graças a sua morte: "The woman is perfected/ Her dead/ Body wears the smile of accomplishment/ The illusion of a Greek necessity (...)/ She used to this sort of thing/ her blacks crackle and drag".
Em 11 de fevereiro de 1963, Sylvia Plath entra no quarto de seus dois filhos, com leite e pão, e veda a porta e as janelas com uma fita. Depois, desce ao andar de baixo e veda com a mesma fita a porta e as janelas da cozinha da casa em Londres. Ajoelha-se em frente ao fogão e liga o gás. É encontrada morta pela enfermeira que fazia visitas diárias.
Seis meses antes, Sylvia deixou seu testamento: "(...) outcast on a cold star, unable to feel anything but an awful helpless numbness. I look down into the warm, earthy world. Into a nest of lover´s beds, baby cribs, meal tables, all the solid commerce of life in this earth, and feel apart, enclosed in a wall of glass" - o que até para "meio" entendedor, meia palavra basta.
Mas, na verdade, seu verdadeiro testamento feio feito na noite de 5 de novembro de 1940, quando, aos oito anos, ela teve a notícia da morte de seu pai: "I´ll never speak to God again".

Nenhum comentário: